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De tudo um pouco - Sense8 e o mundo LGBTT: Transsexual


Uma situação recente me deixou extremamente desesperada e preocupada. Algo que para mim parecia simples de entender virou um pesadelo quando tentei explicar para outra pessoa.


A coisa foi tão ridícula que não sai mais da minha cabeça e tenho tentado de várias formas corrigir-me. Já explico: eu sou dessas pessoas terrivelmente apaixonadas por tudo que gosta (nossa, parece tosco dizendo assim) e gosto de compartilhar desse amor com os outros.


Como uma entusiasta de séries vejo, uma das minhas grandes paixões é recomendar séries e discutir sobre elas. Isso sempre me pareceu inútil, só mais um hobbie.


Infelizmente pouca gente que eu conheço é tão amante de séries quanto eu, então, quando encontro alguém parece Natal. Minto, Natal para mim nunca foi lá essas coisas (num próximo post, falo da família maravilhosa em que Deus me pôs).


Logo, está mais para aquela sensação de estar vendo um filme bem aleatório e de repente aparece algo que você ama e que você não fazia ideia que estava ali. É, mais isso.


Enfim, há pouco tempo descobri que uma prima mais nova, que hoje conta 16 anos, estava enveredando pelo caminho dourado das séries. Meu coração de nerd deu pulos. Desde então temos mantido discussões animadíssimas sobre o que assistimos.


Recentemente, estreou uma das melhores séries que já vi: Sense8. Cara, Sense8 é fantástica! Tem uma história envolvente, interessante, que te prende, que te faz querer ver tudo até o final.


Tudo bem que, pode não ter os melhores diálogos já elaborados, mas a coisa toda é maravilhosa. Tem romance, ação, suspense, comédia, drama e em uma medida que não se torna cansativa ou caricata, tendo como base uma ficção científica intrigante e instigante. E a trilha sonora!?


Mas, talvez, o ponto alto da série sejam seus personagens. Oito pessoas aleatórias ao redor do globo, cada uma com suas particularidades e seus próprios demônios a enfrentar.


Assisti a primeira temporada em três dias (bendita semana de provas!) e corri para indica-la a todos que conheço, claro, minha prima não escapou disso. Dei uma sinopse simples (tenho horror de spoilers, tanto em receber quanto em dar) e ela prometeu que assistiria. Talvez, fale mais sobre a série num outro post.


Bom, a questão é o seguinte, eis que alguns dias depois, ela me fez um questionamento sobre uma das personagens e nunca me senti tão enrolada na vida. A personagem em questão é Nomi, uma mulher trans, interpretada pela atriz trans Jamie Clayton.



Ela mantém um relacionamento com Amanita, uma mulher cis, interpretada por Freema Agyeman (#GoMartha). Nomi é uma mulher trans lésbica.






Posto isso tivemos basicamente o seguinte diálogo:


“- Ulli, essa Nomi é o quê?

- Como assim?

- Ela é transexual, né?

- É.

- Então por que ela namora com outra mulher? Para quê mudar de sexo se era pra ficar com mulher? ”


Para uma adolescente que está apenas começando a entender sobre a diversidade da sexualidade humana achei o questionamento dela bem válido. Entendi a pergunta.


Compreendo o quanto algumas questões ainda podem parecer confusas. Eu, depois de tantos anos aprendendo e me corrigindo, consigo ver a distinção entre gênero e orientação sexual.


Logo, me dispus a explicar, achando que deixaria vida da menina mais iluminada. Ledo engano. Não só não consegui elucidar o caso como deixei tudo muito mais complexo e difícil de entender. A coitada terminou a conversa com a maior cara de interrogação que já vi.


Me embolei toda. Travei. Engasguei. Foi patético. Não consegui falar sobre algo que até então eu jurava que entendia muito bem, inclusiva para explicar a outras pessoas. Passei foi por um constrangimento gigante.


Imediatamente a situação em remeteu a algo maior: “Cacete! Eu vou ser professora! Se qualquer aluno vier me perguntar sobre isso vou só piorar as noções que o sujeito tem”.


Questionei então as colegas de curso com quem tenho mais contato, todas revelaram que isso as preocupa. Não temos nenhum preparo para falar sobre isso em sala de aula.


Muito se debate sobre a importância de tratar sobre as questões de sexualidade nas escolas, sobre a luta LGBT, sobre a transfobia, sobre a homofobia, sobre a opressão que as minorias sofrem de um modo geral, mas pouquíssima preparação é oferecida aos alunos de licenciatura.

Digo isso partindo da minha própria experiência: estudo em uma instituição de ensino federal, referência nacional, vou me formar dentro de um ano (amém!) e nunca tive sequer uma aula sobre o assunto.


A discussão é forte por lá, como deve ser (ou pelo menos deveria) em qualquer faculdade de humanas, sabemos da importância disso, sabemos que deve se trabalhar o assunto com os alunos, mas como?


Nossa preparação no tema enquanto professores em formação fica limitada ao debate que temos entre nós, principalmente quando se trata das questões LGBT. Como educar toda uma nova geração de estudantes sem o preparo adequado?


Uma questão delicada que, deve ser tratado com seriedade, atenção e com a total noção que o que ensinarmos pode ser levado com o aluno para o resto de sua vida, tem todas as chances de afetar sua vida em sociedade.


É uma grande responsabilidade e eu não me sinto nem um pouco preparada para a tarefa. Não consegui responder uma pergunta básica de uma única garota, quem dirá de uma classe inteira. Elaborar uma aula então, parece algo impossível.


Realmente não conheço a realidade de outras instituições, sei que onde estou agora muito se fala e pouco se faz. Imaginem só quantos docentes são formados em um único semestre de uma grande universidade federal, despreparados para o tópico mas com a missão de “formar cidadãos melhores”.


A chave para uma sociedade mais tolerante, empática e menos conservadora pode estar em um ensino que trata da diversidade de forma abrangente dentro das escolas.


Cinco horas por dia, dos seis aos 18 anos, é claro que é um elemento importantíssimo na formação de qualquer um. Todavia os responsáveis interessados (sabemos dos professores preconceituosos que temos) devem rebolar para tentar instruir os alunos.


O debate que se faz nas universidades é muito bom, aprendi nos últimos três anos coisas que até meus 18 anos nunca nem tinha ouvido falar. Porém, é necessário mais. Mandam os professores sem o conhecimento adequado e esperam que eduquem eficazmente seus pupilos. Parece piada. Queria muito que fosse.


Por fim, o questionamento da minha prima mostra o quanto a representatividade importa. Suscitou nela a dúvida, o desejo de saber mais e mostrar o quanto não precisa se temer a exposição das nossas “jovens e frágeis mentes” as demandas naturais que fazem parte de nossas vidas. Quanto mais disso melhor. Mas pouco adianta, se não receber a informação adequada.


Por mais Nomi’s e mais educação aos educadores!


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